segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

sobre meninos, lobos e barreiro

Vivi minha infância no Barreiro, região periférica de BH, anos 70. Era uma roça, com todas as carências e delícias que isto implicava. Era calmo, era longe. Era saudável, não tinha recursos de nenhum tipo, exceto boas escolas, bons professores. Hoje virou uma grande cidade: a região toda passa de 300 mil habitantes. Tem de tudo. Inclusive muita violência. Leia abaixo reportagem do uai (Estado de Minas) de hoje:

"Violência aterroriza a região do Barreiro, em BH
07:46
(Ronildo de Jesus/Diário da Tarde) A região do Barreiro, uma das mais populosas de Belo Horizonte, vive uma situação excepcional no quesito violência. Somente em dezembro do ano passado, conforme estatísticas da Polícia Civil, 14 pessoas foram assassinadas nos diversos bairros que compõem a região. Neste ano, já foram registrados 29 assassinatos, o que tem levado as autoridades da Secretaria de Defesa Social a planejar várias ações de combate à violência e criar um clima de tranqüilidade para os moradores. A matança indiscriminada na região, segundo a polícia, tem sido motivada por tráfico e briga de gangues, e as vítimas, em sua maioria, são jovens. Em dezembro de 2006 e janeiro deste ano, os adolescentes Afrânio Luiz Pires da Silva, de 16 anos, e Jucele Godinho dos Santos, de 17, além do garoto Lucas Daniel Machado de Oliveira, de 2, foram assassinados e os autores do crime até hoje não foram presos nem identificados. De acordo com estatísticas da Divisão de Crimes contra a Vida do Departamento de Investigações da Polícia Civil (DCcV), uma parcela considerável das vítimas de crimes de homicídios ou tentativas ocorridas no Barreiro não tem seus nomes registrados em prontuários da polícia." (http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/local/293261.html)

sobre homens e lobos

Thomas Hobbes (filósofo inglês, século XVII) ficou conhecido como o pai do absolutismo. Sua visão da natureza humana não era nem um pouco condescendente: para ele, o homem era vaidoso, belicista e vivia se medindo pelos outros, o que gerava um permanente estado de angústia e medo, que por sua vez levava ao ato racional de atacar o outro como medida de segurança preventiva. Resultado: uma guerra de todos contra todos, o tempo todo. A saída (sempre provisória) seria a mão forte do Estado, obrigando todos à obediência de regras comuns. Cada um abriria mão de seu poder individual em função da segurança. Lembrei disso ao pensar mais um pouco na situação hodierna no que tange a questão da segurança pública no Brasil. Tudo esgarçado, medo, angústia e cada um cuidando de si, pois é tempo de murici. E vamos indo. Filósofos defendo a lei de talião no combate a criminalidade; legisladores alegando incapacidade de decisão em momentos de muita emoção. E as regras sociais se esgarçando, e cada um ficando cada vez mais cada um. Reparem quantas regras são quebradas diariamente por todos; nem falemos mais das barbáries, dos grandes crimes, mas das pequenas e insidiosas quebras das noções básicas de convivência social. Alucinamos de vez ou ainda dá tempo para alguma reflexão ou ação racional?

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

inspiração matinal

Nada melhor do que acordar inspirado, nada melhor do que ouvir (e assistir) boa música e boa interpretação. Clique em http://www.youtube.com/watch?v=CkT-Is1kTgg . Você não vai se arrepender. Blog também é isto.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Que nome dar a isto????

Notícia na capa do El Pais de hoje, versão on-line:
REPORTAJE
'Encuentra al inmigrante ilegal'
Un grupo que estudiantes republicanos de la Universidad de Nueva York
pondrá hoy en práctica un juego en el que se persigue a trabajadores
indocumentados
EFE - Nueva York - 22/02/2007

Un grupo de estudiantes republicanos de la Universidad de Nueva York
pondrá hoy en práctica un juego en el que se persigue a trabajadores
indocumentados y cuyo anuncio ha causado el repudio de universitarios de
diverso origen étnico.

Encuentra al inmigrante ilegal es el nombre del juego que miembros del
Club Republicano de la Universidad de Nueva York han anunciado que
llevarán a cabo en el parque del centro de estudios. El juego consiste en
que varios estudiantes identificados como agentes de inmigración tratarán
de detener a otro joven, que llevará la etiqueta de indocumentado. El
falso agente que logre detener al indocumentado será proclamado ganador y
recibirá un premio de entre 50 a 100 dólares.

Según la presidenta del Club Republicano, Sara L. Chambers, el juego sólo
busca llamar la atención de los estudiantes sobre la inmigración de
trabajadores indocumentados. Chambers, quien es estudiante de Ciencias
Políticas, ha reconocido que el juego es provocativo, pero ha rechazado
que sea racista.

No obstante, el anuncio del juego ha generado el repudio de estudiantes de
diversos grupos étnicos, que calificaron la propuesta de desagradable y
convocaron una protesta en paralelo a la puesta en escena de los
estudiantes republicanos. Según los convocantes de la protesta, unos 400
estudiantes han confirmado por internet su asistencia a la manifestación,
que también tendrá lugar hoy en rechazo del juego.

"No es un chiste, es muy serio", ha afirmado Dalia Yedidida, alumna de
Estudios técnicos que figura entre las organizadoras de la protesta.
Yedidida ha explicado que la universidad ha alegado que no puede prohibir
el juego porque se desarrollará en un lugar público. de Nueva York han
anunciado que llevarán a cabo en el parque del centro de estudios.


Foi em espanhol mesmo, meu espanto foi tão grande que nem pensei em traduzir. Agora me responda: que nome dar a isto???

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Nossa mídia: algumas idéias dos outros para reflexão

Transcrevo abaixo post do blog do alon, com um acurado diagnóstico da nossa mídia:

"A Venezuela e os três tipos de jornalismo (18/02)
Um amigo meu, muito observador, elaborou uma teoria interessante. Segundo ele, os empresários de comunicação fazem três tipos de jornal (entendido aqui no sentido amplo, não apenas como impresso): para os pobres, para a classe média e para eles mesmos. O meu amigo só lê os jornais que as empresas de comunicação fazem para o consumo da elite. "Eles não vão ficar distorcendo a realidade em matérias feitas para informar a eles mesmos, não é?" Lembrei do meu amigo quando li o relatório que uma consultoria americana fez nos últimos dias para relatar aos seus clientes sobre a situação na Venezuela. Segundo o relatório, a decisão do governo de Hugo Chávez de compensar os acionistas estrangeiros majoritários das empresas nacionalizadas CANTV (telecomunicações) e EDC e Seneca (energia) reduziu os temores de que a Venezuela daria o calote total ou parcial nos proprietários de ativos em empresas estatizadas. O governo aceitou pagar US$ 572 milhões pelos 28,5% que a Verizon detinha na CANTV e US$ 739 milhões pelos 82% que a americana AES (aquela da Eletropaulo) detinha na companhia de eletricidade EDC. E assinou um acordo preliminar com a também americana CMS para comprar os 70% dela na Seneca (regional de eletricidade) por US$ 105 milhões. O mais importante: os valores correspondem ao preço de mercado dos ativos, representando uma perda "pequena e aceitável" para seus proprietários, segundo o analista (as ações sofreram alguma desvalorização com o anúncio das nacionalizações). Entenderam por que o meu amigo só aceita ler os jornais que os empresários fazem para o seu próprio consumo?
Clique aqui para assinar gratuitamente este blog (Blog do Alon)."

após a folia

"Na quarta-feira sempre desce o pano", diz com precisão a velha música do Chico Buarque. Então já que estamos de volta, toquemos a vida. Alguns dias sem ler jornais e nem ver TV fazem um bem enorme, mas o vício do ofício fala mais alto e tome a ler os os jornalões de hoje, com suas notícias carnavalescas e acidentes nas estradas. Não tem jeito mesmo: nas estradas mineiras a polícia rodoviária aplicou nos motoristas mais de 9000 multas, quase o dobro das multas do ano passado, mas a chacina continua: 40 mortes nas estradas federais e estaduais de Minas durante o reinado de momo. Imprudência, imperícia, pressa, ignorância, buracos e bebida: eis o enredo vencedor mais uma vez.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Esta não é deliciosa, é trágica

"Durante a ditadura militar chegou-se a estabelecer aqui a pena de morte, para coibir atos subversivos. E por isso acabaram os atos subversivos cometidos naquela época? Não. Porque não é a dureza da pena que desestimula o bandido, é a sensação de impunidade que o estimula." A pérola acima é da lavra do eminente presidente da OAB Nacional, recentemente eleito, no globoonline de hoje. É, não é nada, mas não é nada mesmo, mas um pouco de história não seria ruím. Então, sr. presidente da entidade nacional dos advogados, eram bandidos os subversivos de então? Eles podem ser comparados ao assassinos do menino carioca? E onde é que o sr. viu "sensação de impunidade" nos anos 60 nos que diz respeito aos "subversivos"? Será que eu entendi mal, ou o sr acha os contextos semelhantes????

outra deliciosa

O governador de São Paulo, José Serra, que ficou mudo durante os ataques que seu candidato Geraldo Alkmin fez sobre o aerolula nas eleições passadas, após readquirar para o o governo paulista o avião que havia sido demagogicamente vendido pelo Claúdio Lembo no semestre passado, saiu com uma singela frase: "um governo como o de São Paulo necessita de um avião". E, claro, ele está coberto de razão. Agora.

frase deliciosa

Esta é cômica: "vou para a comissão de meio ambiente devido à minha formação franciscana", disse o deputado federal Juvenil Alves, ainda no PT mineiro e acusado, tendo visto o sol nascer quadrado durante algumas semanas no final do ano passado, de falcatruas no lucrativo ramo da criação de offshores e empresas biombos para salvar negócios falidos de seus importantes clientes. Tudo bem que os processos não foram concluídos e até lá não se pode condená-lo, mas que a frase é deliciosa, isso é. Recomenda-se aos interessados no tema, do meio ambiente e da formação fransciscana, a leitura do excelente "São Francisco de Assis", de Jacques Le Goff, editora record, 2001. No livro está a história, aliás belíssima, do santo, o de Assis, não a do de Minas.

reforma política: será que agora vai?

Segundo os jornais, o governo encaminhará ao Congresso Nacional, logo após o carnaval, um projeto de reforma política, que conta com o apoio do Conselho de Desenvolvimento Econômico (que reúne empresários e dirigentes sindicais de peso) e da OAB nacional. Proposta de campanha de 11 entre 10 candidatos à presidência da república nas eleições passadas, o tema compõe o cipoal pantanoso do qual tem se originado praticamente todas as "crises políticas" brasileiras recentes. Pelo projeto pretende-se mexer em um vespeiro. Se não, vejamos: autorização para a convoação de plebiscitos pelo executivo ou pela população sobre temas diversos; reccal dos mandatos dos parlamentares, que poderão ser "cassados" pelos eleitores se não estiverem correspondendo às expectativas deles (eleitores); votação por lista fechada nas eleições parlamentares (eleitor vota no partido que define e divulga, antes das eleições obviamente, sua lista em ordem de prioridades); redução do mandato dos senadores de oito para quatro anos e a mudança da regra na definição de suplentes; limitar a imunidade parlamentar, restringindo o direito a foro privilegiado aos casos de delitos cometidos no exercício do mandato; financiamento público ou misto (público e privado) de campanhas, proibição do troca-troca partidário durante toda a legislatura, fim das coligações proporcionais. Como se vê, a se considerar que a proposta é pra valer e não apenas um jogo de cena, instalar-se-a a cizânia. Ou vocês acreditam que a maioria dos parlamentares aceitará tranquilamente estas "novidades". E olha que são todas propostas de mecanismos que já existem em uma série de países e representam uma adequação e um aperfeiçoamento da democracia representativa vis a vis a democracia direta. Nesses tempos de crise de representação política, nos quais mais que nunca o velho Rousseau (aquele genebrino do século XVIII) parece ter razão em sua desconfiança de que os representantes tendem com o tempo a representarem-se mais a si próprios do que os representados, é de se esperar um bom barulho nas próximas semanas. Isto se não houver um grande acordo para empurrar com a barriga estes temas em nome de outras urgências ou da governabilidade. Aguardemos.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Mídia, aipos e cebolas - parte 2

É, eis o tema novamente. Agora para registrar uma decisão do Conselho Nacional de auto-regulamentação publicitária (CONAR). È que após quase um ano de negociações, advertências e tentativas infrutíferas este orgão da área de publicidade, que acompanha, avalia, critica e impõe limites às propagandas produzidas pelas agências e aprovadas por seus clientes decidiu punir a Nestlé. É que este gigante conglomerado transnacional de alimentos e quejandos vinha há mais de um ano propagadeando aos quatro ventos que estava vendendo uma ração para cachorros que conteria "carnes nobres" (isso mesmo) em sua composição. Era uma inverdade, pra não dizer outra coisa. O curioso desta história é pensarmos que em relação à imprensa, qualquer discussão de acompanhamento, auto-regulamentação ou controle social é imediatamente rotulada de "censura", "autoritarismo" etc. Claro que eu penso que o melhor controle sobre a imprensa é a concorrência entre os veículos e que a internet vai e tem auxiliado muito nisto. Mas não custa discutir a criação de mecanismos não estatais de auto ou de social acompanhamento desta vetusta senhora, que muitas vezes pisa na bola e não dá a mínima. Nesta linha registro aqui, com satisfação, que vários espaços de "crítica de mídia" vendo sendo fortalecidos ou criados no Brasil. Entre eles, um, do qual me orgulho de participar, reúne os pesquisadores universitários que se dedicam ao tema e tem o simpático nome de Rede Nacional de Observadores de Imprensa - RENOI. Falaremos mais depois. Veja abaixo a resolução do CONAR, citada acima:
09/02/2007 – CONAR APLICA PENA DE DIVULGAÇÃO PÚBLICA À NESTLÉO Conar – Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária,organização da sociedade civil cujo objetivo primordial é o de zelar pelaintegridade ética da propaganda comercial veiculada no país, com base emnormas voluntariamente adotadas pelo mercado, torna público que:1. O Plenário do Conselho de Ética do CONAR, em sessão realizada em 08 defevereiro de 2007, deliberou tornar público que reprovara campanhapublicitária do produto Purina Beneful, do anunciante Nestlé do BrasilLtda., em razão de expressões e ilustrações não condizentes com arealidade desse alimento para cães.2. O processo ético foi instaurado em 2004, mediante denúncia deanunciante concorrente que, em resumo, questionou a veracidade dainformação de texto sobre a presença de carne nobre na composição doproduto, reforçada por ilustração de carne fresca. O anunciante teveassegurado direito a ampla defesa e viu apreciadas todas as suasmanifestações contra a decisão do CONAR que recomendara, reiteradamente, aalteração das peças da campanha e da embalagem.3. Ocorre, porém, que decorridos cerca de quinze meses Purina Benefulcontinuava persistindo na infração apontada, mesmo depois de vencido oprazo para sua correção.4. Em face do não-acatamento pleno da decisão irrecorrível, o Conselho deÉtica deliberou impor a sanção mais severa prevista no art. 50 letra “d”do Código de Auto-regulamentação Publicitária: a divulgação pública daposição do CONAR em relação ao anunciante responsável pelas peçasreprovadas. Participaram do julgamento do processo nº 239/04representantes do mercado publicitário e da sociedade civil, componentesdo Conselho de Ética da instituição. A empresa se fez representar por seusadvogados. Informações sobre esta instituição estão disponíveis emwww.conar.org.brS. Paulo, 08 de fevereiro de 2007.Gilberto C. LeifertPresidente do CONAR

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Mídia, aipos e cebolas

A mídia tem feito uma grande campanha contra todo e qualquer projeto que pretenda estabelecer uma classificação (indicativa, diga-se) de faixa etária para a programação, especialmente da tv aberta. A Globo fez até um institucional em que diz que quem deve fazer isso são os pais. Estranho né, pois em todos os países democráticos existe alguma classificação. Aqui qualquer tentativa de controle social sobre a mídia é logo tachada de "censura". Eis um bom debate, ao qual voltaremos breve.

contagem macabra, mas necessária

É duro, mas real; um site que conta o número de mortos pela violência no Rio de Janeiro. Não acredita? Eis o endereço: www.riobodycount.com.br

a visão do alon

Peço licença ao meu antigo "camarada" Alon (fomos do PcdoB em priscas eras, final dos 70, início dos 80) e reproduzo sua análise abaixo:
"Os assassinos do Joãozinho não são de esquerda (13/02)
Toda vez que um tema em debate é aprisionado pela ideologia estamos a caminho de substituir a realidade por uma caricatura. Você sabe que este blog foge disso como o diabo foge da cruz. A ideologia é, sim, onipresente. Ela condiciona a visão de mundo, como se fosse um par de óculos. O problema começa quando o sujeito se deixa cegar pela ideologia. Recebi emails de gente segundo quem eu estaria adotando posições "de direita" por defender a abolição do conceito de maioridade penal em certos crimes hediondos, como por exemplo o assassinato do menino João Hélio Fernandes. Também fui atacado por admitir o debate sobre a pena de morte em determinadas situações. Bem, meus caros, no dia em que para ser "de esquerda" o sujeito tiver que tolerar um crime como esse, não nos restará outro caminho a não ser aderirmos todos à direita. Tranqüilidade, porém. Isso não vai acontecer. Procurem descobrir o que seria feito na China, em Cuba ou na Coréia do Norte, ou mesmo na Venezuela do presidente Hugo Chávez, com quem cometesse a barbaridade que tirou a vida do João. Lamento, mas vocês estão errados. Arrastar uma criança por sete quilometros com o carro, fazendo ainda por cima piada com o "boneco de Judas", nada tem a ver com a esquerda ou com a direita. Nada tem a ver com a ideologia de cada um. Nada tem a ver com desigualdades sociais. Nada tem a ver com a concentração da renda e da propriedade. Nada tem a ver com o PT ou com o PFL. Tem a ver com (a falta de) conceitos como civilização, humanidade, vida, Deus, justiça. Respeito a opinião de todos, mas permitam expressar a minha. Pessoas que perpetram um crime como esse têm que ser apartadas pelo resto da vida do convívio social, independente da idade em que cometeram o delito. Devem, sim, receber tratamento digno e humano em sua eterna reclusão. Devem poder estudar e trabalhar. Devem, principalmente, ter assistência religiosa e psicológica. Mas devem ser punidas, no mínimo, com a perda para sempre de sua liberdade individual. Você discorda? Então qual é a sua proposta? Aliás, em vez de resmungar e adjetivar, responda à pergunta que fiz num post anterior. Até que idade a pessoa deve ter o direito de tirar friamente a vida de um semelhante e não receber a justa punição pelo seu ato?
por Alon Feuerwerker @ 16:02:00"

dúvidas hameletanas

Alguém pode me explicar por que o PAN do Rio é chamado pela Globo de PAN do Brasil? Outra dúvida: por que o jogo do Atlético vai ser as 21:45 de hoje? Será que é diferença de fuso horário, já que o jogo é em ilhéus? Ou será que é para tirar os bêbados e os saudosistas de Gabriela do bar do Nacif mais cedo?

sem comentários

"Mal-estar no Carnaval
Reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário espanhol El Mundo comenta a polêmica sobre a presença de músicos estrangeiros no Carnaval de Salvador, dizendo que ela cria “um mal-estar entre os puristas da grande data lúdica e cultural do gigante ibero-americano”. O jornal comenta que o próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil, vem convidando estrangeiros para se apresentar com ele durante o Carnaval – no ano passado foi Bono, neste ano será Shakira. “Mas a colombiana não será a única estrela de renome a aparecer na Bahia durante esse período. Ali estarão, entre outros, Robert de Niro, Oprah Winfrey, Carlos Santana, Fatboy Slim e Ziggy Marley. Os três últimos também atuarão para o público, roubando espaço do axé, a música baiana por excelência, e de outros ritmos afro-brasileiros”, relata o diário. A reportagem comenta ainda que, “junto a eles, milhares de turistas com dinheiro ocuparão os camarotes e o estreito espaço que rodeia os trios elétricos, escoltados por policiais e por um cordão de segurança”. “De fora ficará a pipoca, onde milhões de negros baianos sem dinheiro para comprar a entrada ao camarote ou o abadá lutarão para dançar e se divertir em um espaço mínimo, entre golpes e empurrões da polícia e os marginais”, diz o jornal. A reportagem afirma que, com isso, 'ano após ano, os baianos se vêem cada vez mais fora de sua própria festa, e o mal-estar e os protestos crescem'."
É a vida que segue.

pra não dizer que não falei de flores ou o carnaval vem ai

Como nem só de temas dolorosos vivemos; ou melhor, acho que as vezes vivemos, ou insistimos em viver apesar deles, falemos um pouco de coisas boas, literatura e cinema. Ah os livros e os filmes, principalmente os bons, fazem-nos sentir que ainda resta esperança. Três livros relativamente recentes me impressionaram muito bem: "O império 'a deriva", de Patrick Wilcken; "As travessuras da menina má", do "velho e bom" e polêmico Mário Vargas Lhosa e o indescritível "Conhecimento do Inferno", do surprendende escritor português Antônio Lobo Antunes, ou Lobo Antunes para os "íntimos". Cada um na sua seara, cada um em sua linguagem, cada um com suas indagações e perplexidades, os três arrebata, emociona, faz rir e chorar a cada página, ou a cada três páginas. O primeiro narra as venturas e desventuras da família real portuguesa em sua espalhafatosa escapada de Lisboa, fugindo do exército napoleônico e sua temporada na terra brasilis. Engraçado e revelador de muitas de nossas persistentes mazelas. O segundo conta a saga de uma arrivista social, linda, inteligente e ...peruana e sua relação de décadas com um "bom menino", que sempre a recebe de volta após suas aprontações, dela bem entendido. Texto primoroso, instigante e envolvente. O terceiro merece um post a parte, que virá mais tarde. Por enquanto, arrisco-me a dizer que a prosa do Lobo Antunes tem alguma coisa de revolucionário, de ruptura. Não linear, poética até dizer chega, alucinante como adormecer ao sol, ouvindo o canto dos pássaros e repensando a vida, toda ela. Os filmes ficam para depois. E vocês o que andam lendo e assistindo?

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

para o debate da maioridade penal

Do site do uai:
"Menor chefe de boca de fumo é apreendido na região Leste de BH
10:43
(Portal Uai) Militares do 22º Batalhão da Polícia Militar apreenderam na madrugada desta terça-feira um adolescente de 17 anos, chefe de uma boca de fumo no Aglomerado São Lucas, na região Leste de Belo Horizonte. Com ele, foram encontrados 1,5 quilo de maconha prensada em barras e 60 papelotes de crack. Além da droga, os policiais encontraram uma balança de precisão, um telefone celular e um rádio comunicador. O rapaz foi encaminhado para a Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad), da Polícia Civil, onde permanece detido, à espera da decisão da Justiça."

Tudo indica que há uma estratégia eficiente entre os bandidos: sempre que der, deixe um menor ser preso ou assumir a responsabilidade criminal. E assim caminha a humanidade...

o inferno são os outros

Posto abaixo texto publicado ontem no blog do Nassif sobre uma experiência vivida por uma dirigente da Funabem na década de 80. Ao que tudo indica, só pioramos de lá pra cá e, talvez, seja muito difícil retomar essas estratégias de humanização do tratamento. A coisas se complicaram em todos os sentidos. Será que ainda é possível? Quais os caminhos? Discutamos...

Cenas da Febem
Enviado por: Ivanisa
Em 1985 fui diretora de uma unidade de internação da FUNABEM, considerada o "fim do túnel" ou "o esgoto"para todo jovem infrator que ali era internado. Eram 250 rapazes. Havia de tudo: jovens que cometeram crimes a sangue frio, jovens desequilibrados, epilépticos, homossexuais que cortavam os próprios pulsos, todos participando da mesmas atividades, e dormindo em grandes dormitórios. Havia também instrutores que ensinavam um ofício, professores que ensinavam até a oitava série, professores de teatro, de música, aulas de capoeira, futebol e natação. Médicos, assistentes sociais, psicólogos. E monitores violentos. O chefe de disciplina havia se tornado um sujeito muito violento. Com o tempo, depois de muitas crises e medidas, fugas em massa, foi possível mudar o quadro. Eram feitas assembléias com a participação de todos: jovens, técnicos, professores, instrutores,monitores que tinham o mesmo direito à voz. E debates com convidados de fora sobre mercado de trabalho, educação e projeto de vida. Os jovens tinham consciência que ao passar por lá estariam estigmatizados pela sociedade e as gangs e os grupos os obrigariam a voltar ao mundo do crime. Acredito que a metade deles não sobreviveu. Vários episódios aconteceram que vale a pena contar. Vou comentar dois deles nos próximos espaços.Entre esses jovens havia um que tinha feito um assalto à mão armada com uma arma de brinquedo. Seu período de internação estava terminando. Mas o Juiz de Menores não queria o seu desligamento. Seu pai contratou um advogado para acompanhar os autos do processo. Mas o Juiz não permitia que ele tivesse acesso. A meu pedido, finalmente o advogado pôde acompanhar e pedir seu desligamento. Mas o Juiz pediu um exame de periculosidade que era feito por uma instituição manicomial. Esse exame levava seis meses. Diante da situação, conseguimos que fôsse feito em 15 dias e o resultado saísse em mais 15 dias. O jovem não foi considerado perigoso. Chamei ele à minha sala para informar do seu desligamento. Mas para meu espanto ele ficou quieto, taciturno. Perguntei se não era isso que ele queria. E ele muito sem graça disse: "Tia, dá para eu ficar mais um mês para terminar a oitava série?" Outro episódio foi o do chefe da disciplina que havia chegado cheio de ideais à unidade e se tornou muito violento. Um dia soube que haviam trancafiado alguns jovens que participaram de uma fuga em massa, depois de terem apanhado com "porretes". Reuni todos os monitores e disse que não continuava. Um deles deu um passo à frente e pediu que eu continuasse, mas disesse o que eu queria, porque eles não estavam entendendo. Para encurtar a história eles assinaram um documento de que não iriam mais usar de violência contra os jovens. Dois anos depois, o chefe da disciplina apareceu na coluna do Zózimo Barroso do Amaral, sob o título: Desobediência Civil. Ele estava sendo carregado nos ombros pelos jovens, outros jovens já de outro período, porque a direção da FUNABEM, que havia mudado, queria dispensá-lo. Os jovens e todos os funcionários queriam que ele permanecesse. Foi a primeira vez que esse mundo da violência saiu em uma coluna social e não nas páginas policiais. Por que será? Podem pesquisar nos arquivos do Jornal do Brasil. Há muito mais pra contar, mas foi a experiência de vida que mais me ensinou a entender o ser humano e a violência que se encontra em cada um de nós. O menino morreu de uma forma hedionda, o líder da ação criminosa foi jogado numa cela suja e sem luz. E o Congresso discute a redução da maioridade penal e a prisão perpétua, quando esses jovens já morreram, foram transformados em monstros. De quem é a responsabilidade?

(comentar 22 comentários) (envie esta mensagem) (link do post)

stuart angel

Pensando na barbárie lembrei-me da tortura e assassinato de stuart angel (filho da zuzu angel: viram o filme?) pelas forças de repressão do regime militar nos idos "tempos de chumbo". Torturaram-no em um quartel, à vista de muitos outros prisioneiros políticos e soldados e arrastaram-no amarrado a um jipe até a morte. A barbárie se repete, como se vê. Mudam os personagens, mas a crueldade está ali, à espreita.

decidir sob emoção

O debate do dia e da semana continua sendo a repercussão do assassinato do menino João, arrastado no Rio de Janeiro por ladrões no carro de sua família que acabava de ser assaltada. Barbaridade que nos remete mais e mais para o universo hobbessiano (Thomas Hobbes, Inglês, séc. XVII) da guerra de todos contra todos. Nela todos têm medo de todos, e a melhor defesa é o ataque, resultando sempre em mais violência e guerra. Triste país. Mas o post é sobre as repercussões. Espanta-me ver, ouvir e ler declarações de próceres de nossas instituições republicanas (?) alegando que não se deve tomar decisões sobre as necessárias mudanças legais para o combate à violência. Se é assim, nenhuma decisão pode ser tomada neste país, pois vivemos sempre sob o impacto de notícias assustadoras nesta área e em muitas outras. Seria cômico se não fosse trágico. Afinal os legisladores, os especialistas, os governantes, os juízes, entre outros, deveriam atentar para o fato de que é nos momentos de extrema emoção e tensão que se mede a capacidade de liderança e de reflexão. Mais que isto, é nestes momentos é que cria-se na sociedade uma opinião propensa a legitimar as mudanças. Querer postergar as decisões sob este argumento beira à indigência intelectual. Óbvio que não se trata de linchamento, o que se quer são decisões rápidas, justas e eficazes, sintonizadas com os tempos bárbaros que vivemos.

as mil flores do mao

Olá para todos. Mais um blog no blobosfera. Mais uma das famosas mil flores citadas pelo líder do revolução chinesa de 49, Mao Tse Tung, hoje fora de moda. Mas uma frase que, a meu ver, define bem o espaço virtual: todos podem falar, opinar; enfim, um espaço democrático. Pero no mucho, haja vista que também poucos podem ter acesso no Brasil. Os dados, sempre eles, falam que já somam quase 30 milhões de computadores no país. Enfim, é um começo. Aqui serão postados temas diversos, especialmente na área da política, da cultura, da mídia e da literatura, que são meus xodós. Pela expressão no fim da última frase vocês já podem adivinhar minha idade né? A idéia é debater, polemizar, se possível em alto nível. O primeiro critério que tentarei observar é o de não procurar desqualificar ninguém, mas debater as idéias e opiniões. Sem ranços, sem aprioris e sem agressões, sobretudo à inteligência alheia. Bem vindos!