segunda-feira, 30 de julho de 2007
primeiras reflexões
As discussões no Brasil costumam ser apressadas e superficiais. Exercitamos uma espécie de culto às conclusões fáceis e simplificadas. Quase sempre em busca de um bode expiatório, que nos tranquilize. O preço é alto; quase sempre isto nos impede de enxergar e colocar a nú os verdadeiros problemas, as causas primárias, as conexões entre fatos, entre erros, as distinções entre falhas, fatalidades, má fé, imprudências, negligências e canalhices de todo o tipo. O caminho mais rápido é a catarse coletiva, o linchamento midiático, a fogueira purificadora. Nossos males são sempre causados pelos outros. A responsabilidade é sempre de alguém etéreo, um ser "tipo ideal", para voltarmos ao velho Max Weber. Nossas tragédias servem para um culto coletivo de expiação escondida dos nossos erros. Chora-se pelo bons e pelos maus motivos. Chora-se de dor sincera, de consternação justa e justificável, de humanismo pleno, de identificação solidária com a dor alheia e com a nossa dor. Mas chora-se também como forma de tentar eximirmo-nos das nossas responsabilidades. Chora-se como se todos fôssemos alheios ao que se passa por aí. Adoramos crucificar; se possível que alguém crucifique por nós. Adoramos nos indignar, mas que seja rápido, que náo nos exija muito, que não nos tome tempo e energia, que não nos cobre reflexões, que não nos imponha descobrir todo o processo. Todo o processo? Aí é pedir muito, pois precisamos nos olhar no espelho e nem sempre podemos ou temos coragem para isso. Esse, o pano de fundo. No proscênico a tragédia se desenrola com o enredo costumeiro. Politização (no sentido da partidarização, do interesse eleitoral, da disputa mesquinha por espaço) de todos os aspectos envolvidos nos problemas. As responsabilidades são direcionadas aos adversários, de um lado ou de outro. As culpas não têm históricos. As decisões não tem autores. As cobranças são feitas de acordo com os interesses. Todos mentem, alguns são mais cobrados. Todos jogam para o público. Alguns são apontados jogando. Todos torcem para que o outro seja o culpado. Alguns são mostrados fazendo isto. É evidente que as responsabilidades devem ser dirigidas, identificadas e cobradas - ética e legalmente - de quem as tem, em todos os níveis (governos (em todos os planos, atuais e anteriores, gerentes e diretores de agências que "fingem" fiscalizar, empresas que colocam o lucro em primeiro lugar sobre todo e qualquer outro valor etc). Mas é necessário irmos além, refletirmos um pouco mais sobre tudo isto. Os mortos merecem, os vivos também. Continuemos...
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